Tempo de valorizar
Diante da pandemia que assombra o mundo há mais de um ano, diversas foram as manifestações públicas e homenagens aos profissionais de saúde, médicos, enfermeiros e todos os envolvidos no atendimento às vítimas da Covid-19.
À frente de um hospital filantrópico, no Vale do Paraíba, me deparei com situações que jamais imaginei e foi diante da força desses mesmos profissionais que me fortaleci. Ainda que profissionais de saúde e gestores hospitalares tenham já trilhado boa parte de suas vidas atrelada a desafios e amparada na construção de sua resiliência diária, o que vivemos hoje vai além de todo o esperado.
Já chegamos na terceira onda, volume de mortes diárias, correria para adquirir e gerir medicamentos escassos, falta de leitos, falta de profissionais, morte de colegas de trabalho e, a pior experiência de todas, sermos mensageiros das declarações de despedidas de pacientes aos seus familiares queridos.
O apoio mútuo entre os profissionais, o reconhecimento da sociedade que se dá através de grandes gestos diários silenciosos, como quando um pequeno empresário deixa na porta no hospital, em uma noite de domingo, algumas caixas de pizzas, só para diversificar o jantar de quem está de plantão.
O apoio em saúde mental e o acolhimento de todos os profissionais e gestores de saúde são fundamentais, mas nada é mais confortante do que o reconhecimento da sociedade, de cada paciente e de cada familiar.
Das pessoas que nos reconhecem na rua e de longe fazem gestos de apoio, de força e o olhar de gratidão. Os gestores hospitalares e públicos, em sua maioria, também comprometidos com a assistência e vivenciando todos os desafios diários de prover o possível e o impossível para atender a demanda de pacientes, também estão exaustos, sem um único dia de descanso e compartilhando os desafios com os profissionais. Não há um único trabalhador ou prestador de serviço na área hospitalar que não esteja sofrendo as consequências da pandemia e, em especial, as dificuldades do Brasil, com a falta de planejamento central e de mínimas perspectivas de rápida solução e controle.
Todos os dias penso o que mais é possível fazer? Como vamos conseguir? E quando chego ao hospital para mais uma reunião no comitê de crises e vejo a garra de cada membro da equipe, penso, vamos superar mais hoje.
Se puder, onde estiver, como der, reconheça e seja grato a todos que fazem um hospital não parar mesmo diante do caos. Se seu vizinho ou amigo trabalha no hospital, seja o cargo que for, expresse a ele seu sentimento. Cada um de nós, do lado de cá, no front dessa guerra, espera pelo seu apoio e é ele que será o nosso combustível para aguentar por mais muito tempo o que está por vir.
Muito obrigado, colegas.
Ivã Molina
Provedor da Santa Casa de São José dos Campos e vice-presidente da Fehosp (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo)