A Santa Casa de São José dos Campos realizou cirurgia oncológica nunca antes feita no hospital. O procedimento, chamado de Peritonectomia com HIPEC, é a única forma de tratamento de alguns casos de câncer peritoneal avançado. Quando indicado adequadamente, em até 80% dos casos de pacientes portadores de doenças consideradas terminais, chegam a viver mais de 10 anos. No Brasil, são poucos os centros especializados no tratamento da carcinomatose peritoneal e o médico da Santa Casa, Dr. Artur Reis, responsável pela cirurgia, é o segundo brasileiro a ter o certificado de especialista em neoplasias da superfície peritoneal, concedido pela Sociedade Europeia de Cirurgia Oncológica, única entidade no mundo que promove treinamento especializado a esse tipo de tratamento.
O peritônio é uma membrana fina que envolve os órgãos do abdômen, como o estômago e o intestino, separando-os dos músculos da região. Essa camada é rica em vasos do sistema linfático, que funcionam como sistema de defesa do organismo. Os tumores do peritônio podem ser primários – quando se originam no próprio peritônio (considerados raros) ou secundários – quando um câncer que veio de outro órgão o atinge. “Os tipos mais comuns de câncer que evoluem para a carcinomatose peritoneal são os de apêndice, intestino, ovário, estômago, pâncreas e fígado”, explica o Dr. Artur.
O procedimento é complexo e dura de 10 a 12 horas. “Tem alguns que acabam demorando mais, já fiz cirurgias que duraram até 25 horas seguidas”, conta o médico.
A cirurgia começou a ser difundida há duas décadas, pelo cirurgião norte- americano, Dr. Paul H. Sugarbaker e é composta por duas etapas. Na primeira, chamada de citorredutora, todos os nódulos visíveis na cavidade abdominal são removidos cirurgicamente, de maneira minuciosa. Concluída essa fase, na sequência é aplicada uma quimioterapia hipertérmica, na qual uma solução com quimioterápico é aquecida a 42° e aplicada dentro da barriga por cerca de 60 a 90 minutos. “Uma máquina é levada até o centro cirúrgico, faz a circulação dessa solução dentro do abdômen e a mantém aquecida”, relata o Dr. Artur.
O tempo médio de internação do paciente é de 10 a 20 dias, com permanência entre 5 a 7 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
No Brasil, a cirurgia ainda não é coberta pelo SUS ou planos de saúde e os poucos hospitais brasileiros que realizam o procedimento o faz com recursos próprios. “Em quase todos os países o tratamento é liberado de forma tanto pública, quanto privada e aqui no Brasil estamos em processo de implantação”, conta.
Dr. Artur concluiu a especialização no procedimento na Itália, em fevereiro deste ano, após dois anos de estudo e treinamento. “Apesar de o Brasil ter cerca de 80 cirurgiões fazendo esse tipo de procedimento, o certificado europeu só eu e mais outro médico temos”, salienta. “Meu objetivo é formar um centro de carcinomatose peritoneal para atender o Vale do Paraíba. A experiência dos cirurgiões e centros especializados faz toda a diferença no resultado dessa cirurgia”, completa o especialista, que já realizou 10 procedimentos do tipo na região.